O 25 DE ABRIL NÃO SERVIU PARA NADA

Soube antes do 25 de Abril que havia uma coisa chamada PIDE. Perguntei ao meu pai o que era e ele pôs-me de quarentena. Quando aconteceu a revolução, fui presenteado com doses industrais de "Vida no Campo" e uns tantos comunicados de uns tipos de farda de combate. Quando voltei às aulas, no velho palacete do Visconde de Trevões, o país tinha mudado. Ao contrário da expectativa, de então para cá mudou pouco. Ou quase nada. Diz-se que há uma nova PIDE - o Ministério Público. Procuro nos 145 canais da TV e não consigo ver o "Vida no Campo". Só o Joaquim Furtado parece intocado. Podem dizer-me que o país entrou na comunidade europeia, que tem uma moeda que dá coça ao dólar e que até o presidente de todos os europeus é nosso. O presidente da CE, o da liga mundial da turberculose e o dos pobrezinhos do Darfur. Ena! Nesse entretanto, tivemos um prémio Nobel da literatura que se exilou em Lanzarote e o Benfica deixou de ser campeão com a regularidade que nos confortava, a nós, claro, os tais 6 milhões. Ok, o dito poder democrático trouxe o poder para o pé da nossa porta, através das autarquias. Visto bem este filme, valeu a pena: foi algo que deu emprego a muita gente! Não me levem a mal mas o 25 de Abril de 1974 não serviu para nada. O povo continua votado ao desprezo do costume porque o que interessa são as bases partidárias. Finalmente temos um primeiro-ministro parecido com um actor de Hollywood mas...e depois? Os livros do dito Nobel são fixes para enfeitar estantes. E o Álvaro Cunhal perdeu toda a graça que tinha na clandestinidade e morreu. Gostava de voltar ao dia 24 de Abril de 1974. Quanto mais não seja, para passar os dias a jogar à bola nos jardins do Visconde de Trevões. Suponho que não estaria a cometer um delito passível de uma intervenção da PIDE. Ou do MP. PsS - Lembrei-me agora do Cristiano Ronaldo. Melhor dizendo, das suas acompanhantes. Vistas as coisas por aí...