Piercings e paneleirices

Ando há dias a matutar no projecto de lei que o Governo anunciou para proibir piercings na língua (a todos os portugueses) e nas restantes partes do corpo (a menores de 18 anos). E embora tenha dado comigo várias vezes a pensar no tema, ainda não sei se concordo com a ideia. E para mim esta conversa é pouco ou nada relevante: todos os meus buracos vieram de fábrica! E os que entretanto fui arranjando foram todos involuntários e, felizmente, acabaram por fechar.

Limitar esta estranha moda de o pessoal andar por aí todo esburacado merece o meu apreço. Nunca consegui perceber o encanto de ver alguém com correntes presas entre o nariz e a boca. E ter pregos no meio da língua, mais do que inestético, deve perturbar várias actividades pertinentes, a começar pelo simples acto de comer. E já nem falo das complicações que estas mutilaçõezinhas podem trazer à saúde.

Mas, por outro lado, faz-me confusão ver os políticos a decidir o que cada um pode ou não fazer com o seu corpo. Se aceitarmos, sem levantar questões, todas as ideias que os "pensadores da nação" nos atirarem para cima, qualquer dia não podemos roer as unhas, beber mais que uma litrada de cerveja por semana ou passar mais de três horas por dia em frente a um computador. E depois disso será um passo até sermos obrigados a vestir de igual, a filiar-nos numa qualquer religião ou a ingerir determinado número de vitaminas por refeição!

O Governo (este ou qualquer outro) deve zelar pela boa sáude da malta mas, se calhar, em vez de proibir o tabaco aqui e ali ou furos onde o pessoal bem entender, talvez pudesse canalizar essa energia para outras coisas. É que, sem ponta de ironia, parece-me incongruente ver toda esta fobia pela saúde quando, ao mesmo tempo, se fecham centros médicos e maternidades e se sabe que gente morre à espera de ambulâncias que estão a meros 5 minutos dos locais dos incidentes.

Mas, num País onde a querela pessoal entre duas "pseudo-figuras públicas" (daquelas que ganham para comer a falar da vida dos outros mas ficam todas "excitadinhas" quando o povo opta por comentar as suas, concluindo que são apenas "farinha do mesmo saco" e sofrem do mesmo problema de "bicheza") é notícia; onde nenhum caso judicial envolvendo "peixes graúdos" se resolve e onde a Polícia nos tenta dizer que um segurança do Colombo se suicidou com três facadas no coração só para o pagode não ficar à rasca com o súbito aumento dos casos de crime violento entre nós... já nada me espanta. O truque é aprender a rir desta palhaçada toda.