AS NOSSAS VIDAS ARRUMADAS

Quantos de nós já não se interrogaram quando reflectem sobre as respectivas profissões: mas ando a perder tempo com isto porquê, como é que cheguei aqui? Tenho amigos que fazem um pouco de tudo. Como estamos todos a entrar naquela fase de declínio mental e físico, já deixei de lhes perguntar se são felizes assim. Quero acreditar que sim. Quero acreditar que defender mafiosos em tribunal, cuidar de barragens no Douro, produzir acusações públicas, chefiar gabinetes, escrever artigos para jornais, promover vendas, tratar de ar condicionado ou vender alarmes de automóveis é algo essencial para a vida humana e para a batalha da produção. Mas há momentos em que sinto que se calhar estamos todos a exagerar. Como aconteceu no sábado à noite, depois de arrumar o carro a um quilómetro do Bessa e quando me preparava para carregar com 3 quilos de informática e outro tanto de papel e quinquilharias às costas. O arrumador recolheu a minha nota de 5 euros, deu-me 4 euros de troco e despediu-se assim: "Ok, tá feito, 75 euros, vou até ao café comer uma francesinha e beber a minha caneca enquanto vejo o jogo".

- Rendeu o dia, disse eu.
- Nem por isso. Quando a Espanha jogou aqui ganhei 250 euros numa hora, respondeu o jimbras.