Homero, mais um da geração dourada

Morreu Homero Serpa. Confesso que nunca foi um dos meus jornalistas preferidos da chamada geração dourada de "A Bola". Os meus ídolos eram o Carlos Pinhão e o Carlos Miranda. O primeiro deu-me um grande estímulo ao considerar-se, nos meus primórdios na profissão, um jornalista desportivo com grande futuro. O segundo amarrou-me durante muitos Verões à cobertura da Volta a Portugal e do Tour. Recordo a minha última conversa com o Miranda, madrugada alta, num autocarro a caminho da aldeia olímpica de Badalona, após um dia exaustivo na cobertura dos Jogos Olímpicos de 1992. Ao meu lado, o Carlos, que eu nem conhecia bem, confessou: "São os meus últimos jogo, já não tenho vida para isto". Foi mesmo. Homero tinha um nome apropriado à geração de jornalistas a que pertenceu, cuja odisseia devia ser um exemplo eterno. Homero, Miranda, Pinhão, Márcio, Santos e outros eram grandes jornalistas que fizeram de "A Bola" uma referência não apenas com trabalho no campo mas sobretudo com generosidade e companheirismo, fazendo o que se chama "as costas" aos seus companheiros quando estes eram enviados especiais ao estrangeiro. Para além de tudo o mais, escreviam muito bem, com estilo, com estórias, ousando colocar pontos de vistas pessoais na factualidade dos dias. E sim, sim, tinham espaço para escrever, não estavam subordinados à lógica dos estudos de audiências e à ditadura do grafismo de micro-ondas. Ai que saudades, ai, ai...