OS BIMBOS

A primeira vez que ouvi a palavra "bimbo" foi quando estagiei no famoso Calhau a que chamam também convento de Mafra, no início dos anos 80, quando me fartei da universidade e quis ver como era a vida militar (há decisões muito estúpidas!). A palavra era por norma aplicada pelos lisboetas e afins aos tipo menos aptos, como deveria ser o meu caso, pois depressa fui despachado para casa com um saco às costas, voltando a poder fazer tranquilamente a minha vidinha. Para além da experiência (inesquecível, apesar de curta) e das amizades (que entretanto se perderam mas que perduram, como é o caso de um visitante deste blogue, o Silva), ganhei a palavra "bimbo" com muito gosto e muito antes do pão de forma. É uma palavra que hoje me dá muito jeito sobretudo para classificar uns tantos seres que se apropriam do Porto e que se arvoram em seus paladinos. No próximo dia 4, esses mesmos sujeitos, sob o slogan "genialmente inventado" por Carlos Magno, segundo o próprio, evidentemente, vão dizer eu imPORTO-me numa acção junto ao rio (Douro, obviamente). Que ninguém se iluda. É apenas mais um pretexto para os Magnos desta cidade acenturarem o provincianismo de que padecem e reforçarem o estatuto que julgam ter. Lamento que o Porto, que não é a minha cidade mas de que gosto bastante, esteja nas mãos destes...bimbos bem falantes e de acções muito pouco consequentes naturalmente porque estão sempre focados nos respectivos umbigos, não passando nunca, por isso, de figuras exóticas aos olhos dos lisboetas genuínos e mesmo dos que emigram do Porto para a capital. Conheço muitos portuenses de grande dimensão cultural e humana (Jorge Fiel, Manuel António Pina, Germano Silva, David Pontes, Marques Pinto, Manuel Carvalho, Palmira Macedo, Coutinho Ribeiro (também conhecido por Tó Manel), Jorge Nuno Pinto da Costa, Maria do Carmo Serén, Alcino Soutinho, Alberto Gonçalves, Frederico Martins Mendes, João Pereira Coutinho, Rui Centeno, Manuel Seabra, Pedro Fonseca, Luís Lopes, Carlos Romero, Salvato Trigo...) e temo que alguns deles se deixem envolver neste movimento abimbalhado que apenas colocará mais uma vez o Porto a jeito das críticas de Lisboa. O Porto, como cidade liberal e muitas vezes do reviralho, não merecia entrar no século XXI apenas impulsionda por esta corja de diletantes que passam os dias a olhar para o espelho e a escutar o próprio eco.

Mas, se calhar, cada um tem o que merece.