O verdadeiro «mister»



Leça, época 97/98. Um puto discreto e muito tímido saca a bola ao Constantino com desvelo de craque, levanta a cabeça, desenha um passe de uma área à outra e isola o Serifo. Vladan batido. Golo! Junto ao relvado, acabadinho de ser apresentado como novo treinador do Leça, substituindo Rodolfo Reis, Vítor Manuel põe a mão no queixo, volta-se para trás, fixa o grupo de dois jornalistas que assiste à sessão, e eles fixam-no num silêncio perturbador. No campo, o rapazinho continua a dar festival na posição de central, corta limpo, passa bem, trata o couro com carinho. «Ouve lá, ò Pinto, quantos jogos tem este puto?», indaga Vítor Manuel. «Nenhum», responde o adjunto da casa. «Como? Vai ser titular já no próximo jogo.» Virou-se para trás outra vez, e, entusiasmado, abriu o coração aos repórteres: «Grande menino! Já é jogador! Já é craque». O menino chama-se Ricardo Carvalho, nesse ano o Leça obteve a melhor classificação da sua história na I Divisão, graças sobretudo à visão, conhecimento e competência de um dos melhores treinadores que conheci. O verdadeiro «mister». O verdadeiro «olheiro». O Vítor teve de emigrar para Angola para fazer aquilo que mais ama. Boa-sorte. E continua a fazer aquilo que melhor sabes: ser amigo dos verdadeiros craques.