PÓS E CONTAS


A minha antiga colega de curso Fátima Campos Ferreira, então Matos Lima, figura um tanto ou quanto ostracizada pela sua turma mas de uma simpatia que sempre admirei, dedicou o últimos "Prós e Contras", dito o único programa da RTP de verdadeiro serviço público, à introdução de novas tecnologias na arbitragem.

Com esforço, vi tudo.

Houve um momento particularmente exaltante, quando Jorge Jesus disse estar sempre "inline" durante os jogos do Belenenses, revelando que tem um colaborador a ver a TV que lhe vai dando as dicas sobre os lances de dúvida, nem sempre concordando com ele depois de ver as imagens. O problema está muitas vezes, como disse o salvador também conhecido por Mestre da Táctica, nos "fremes".

Jesus tem razão e tocou no ponto certo. Nem sempre o visionamento das imagens permite esclarecer um lance. Por isso, a introdução do 5.º árbitro na régie, como defendeu António Tadeia, merece pelo menos ser discutida antes de se transformar em decreto-lei.

A Paulo Catarro coube a missão de ser o fundamentalista do não às novas tecnologias. Catarro levou a coisa a sério. Nem tanto ao mar...

Melhor estiveram os árbitros convidados - Pedro Henriques, Paulo Proença e Duarte Gomes -, que defenderam a introdução de tecnologia mas para casos muito específicos, como seja o chip na bola, nunca como genérico.

Hermínio Loureiro não começou bem ao falar dos Descobrimentos e da propensão dos portugueses para a inovação. Está provado historicamente que os nossos achamentos foram movidos por outros interesses... Mas adiante. O presidente da Liga quer fazer história e estou certo que já a está a fazer. Mas está a meter a carroça à frente dos bois pois não pode querer a profissionalização da arbitragem e uma revolução tecnológica ao mesmo tempo.

Vítor Pereira esteve bem quase até ao fim, até se deixar cair no engodo. O nosso "Richard Gere" justificou bem os "castigos" e mostrou-se alinhado com Hermínio. Um discurso sereno e construtivo.

Os árbitros também mostraram de que massa são feitos, sobretudo Pedro Proença, que mais uma vez provou a sua independência e o seu arrojo, ao discordar de Vítor Pereira na questão dos castigos. Vivemos num país democrático e é assim mesmo. No naipe escolhido faltou apenas um árbitro não lisboeta para não se ficar a pensar se os outros são os parolos...

Confesso que estava ansioso pela intervenção do presidente da APAF. Acertei. António Sérgio, no seu estilo metralhadora, começou por recordar o massacre de Dilí a propósito das novas tecnologias. O resto foi menos empolgante mas também não se percebeu nada.

Em estilo completamente "low profile", Eduardo Medeiros, ex-delfim de Valentim Loureiro na Liga e agora presidente das Ligas europeias, debitou estrangeirismos e exibiu uma pose aristocrática. Mais uma vez com excesso de gel.

Joaquim Evangelista, presidente do sindicato dos jogadores, não falou muito mas tudo o que disse foi acertado. Cá está alguém que merece estar em todas as discussões sobre o futebol. Não só por representar a classe mais signicativa da indústria.

Os dirigentes de clubes não quiseram ir ao Teatro Armando Cortez. Se ainda fosse ao Elefante Branco...