PÁGINAS AMARELAS


Um meu amigo grande mestre no desenho de páginas de jornal - ok, o Virgílio "Amarelo" Neves - costumava chamar aos trabalhos sobre estatísticas do futebol "Páginas Amarelas", aquele livro que todos temos em casa e que ninguém usa a não ser quando precisa de acender a lareira e não há acendalhas. Sempre concordei com ele mas nem sempre pude botar a este tipo de trabalho o desprezo que este merecia ora porque o tempo escasseava, ora por falta de meios. Por isso, de vez em quando, e sendo eu responsável pelas edições, lá iam mais duas páginas de "Páginas Amarelas". Isto aconteceu já há alguns anos mas a situação apenas piorou. É abrir os jornais e ver a quantidade de "classificados" que surgem travestidos de noticiário realmente interessante. A propósito de tudo e de nada: o golo 50 do Quinzinho, o número de cruzamentos do Manuelzinho, a série de empates do Alberto, as virtualidades do losango, os onzes que se repetem ou não, enfim, não preciso de dizer mais nada, pois sabem do que estou a falar. Quanto a mim, a falta de assunto resolvia-se facilmente com mais investimento de reportagem no terreno, aumentando o espectro mediático sobre o fenómeno futebol (eh pá, desculpem qualquer coisinha, mas saiu assim perfeito!). Mas quem sou eu? Resta-me continuar a aborrecer-me enquanto leio o jornal no café com páginas e mais páginas sobre a influência das transições ofensivas na subida do preço do café na Colômbia.