CARTÃO VERDE


Estou cada vez mais convencido que os programas da tarde dos nossos canais ditos generalistas, ou se calhar genéricos, são feitos tendo como alvo indigentes ou politraumatizados cranianos graves antes de tudo porque nos chegam a casa em agudos e nos proporcionam uma espécie de "soap" de colunismo social e de crítica filosófica sobre a vida dos homens pouco erectus e das mulheres muito habilis. Ok, isto era só o nariz de cera, outrora muito em voga nos jornais, mais tarde enterrado pela pirâmide invertida (a tola!) e pelo 'quem, onde, quando e como' (ou mais ou menos isto). Os meus colegas que dão aulas de jornalismo para ajudar a comprar o óleo Fula e mais um DVD sabem do que estou a falar, ou melhor, sabem que estamos a falar de algo com muito pouco interesse para quem faz jornalismo mas deveras interessante para quem ganha com a sua teorização, quanto mais não seja estatuto e umas horas extras fora dos locais onde as coisas acontecem, com a vantagem de estas poderem ser sempre comentadas (o que na perspectiva de muitos é sem dúvida mais "in"). Como não gosto de gel, escolho o primeiro par de óculos que me aparece, só tenho um fato e aquele com que casei e faço questão de ter como amigos algumas personas non gratas, por cá continuarei enquanto me deixarem e com isto tudo até me esqueci da razão que me fez entrar no blogger, digitar a minha palavra -chave e entrar nesta caixa de comentários. Já sei. Vinha falar da agora famosa alteração da nota de Pedro Proença no FC Porto-Sporting do campeonato, uma notícia dada em primeira mão pelo Admirável Homem das Neves no popularíssimo BLOG DA BOLA, já uma espécie de local de culto da blogosfera e também uma espécie de núcleo leonino eternamente com Dias da Cunha e contra os Barbosas, os Bentos e os Freitas marchar, marchar. Nada de novo no faroeste, portanto.

É assim: um clube pode sempre discordar da nota que um observador dá a um árbitro. No caso concreto desta época, o Sporting tem sempre discordado e usado a prerrogativa de recorrer de TODAS as notas dos árbitros para a Comissão Técnica de Avaliação, que esta época passou de 5 para 7 elementos, tendo nela entrado uma espécie de dinossauro excelentíssimo que é o sr. Nemésio de Castro, antigo co-equipier de José Luís Tavares na Comissão de Arbitragem da Liga e um personagem que o admirável conhece bem dos corredores dos tribunais de Almada. A CT não tem necessariamente de reunir com todos os membros e as suas decisões são tomadas com base nas imagens televisivas. Obviamente, a CT foi escolhida por Vítor Pereira, sendo natural que todas as decisões tenham o aval do presidente da Comissão de Arbitragem da Liga. E por isso é que antes de tudo os árbitro ficam fulos com o chefe, mais a mais quando está em causa um árbitro com a personalidade do gestor de falências Pedro Proença, que via a sua nota descer devido ao facto, por exemplo, de não ter dado ordem de expulsão a Ricardo Quaresma. Note-se que os árbitros podem também recorrer para a CT e é o que Proença vai fazer. Ou seja, a CT é apenas mais uma forma que os clubes têm de pressionar os árbitros porque esta só actua em duas situações: a pedido dos clubes ou a pedido dos próprios árbitros. Árbitro e observador comem normalmente pela medida grande e, claro, aqueles clubes que são useiros e vezeiros neste tipo de recursos são para os árbitros o mesmo que a cruz é para o diabo. Não sei sinceramente que isto é bom ou mau para os clubes. Para os árbitros não é boa com certeza esta possibilidade que a lei dá aos clubes de accionarem mecanismos que deviam ser naturais no funcionamento da própria arbitragem, numa lógica que a Liga devia ter de blindar os seus órgãos deliberatórios da permissividade e da angústia permanente dos clubes.
Obviamente, toda esta discussão da arbitragem na Liga mais dia, menos dia irá acabar. Quando a arbitragem tiver de ser devolvida, por força da lei, à Federação Portuguesa de Futebol. Quiçá ao Pinto de Sousa e ao António Henriques.