ALGUMAS NOTAS [actualizado]

É coisa rara um árbitro admitir que errou. Rara e até perversa. O que só por si já é merecedor de um destaque positivo. O madeirense radicado em Lisboa Duarte Gomes, ao que presumo funcionário do BES, advogado, não nega as "evidências" mas apressa-se a referir, no comunicado que deixou no agora renovado site da Liga, que estas "resultam do visionamento das imagens televisivas". A sério?! Mais, diz Gomes que a decisão "foi tomada pela equipa de arbitragem", o que coloca o ónus sobre o árbitro auxiliar José Lima, que no campo parece ter jurado a pés juntos que era penálti. É vulgar já os nossos árbitros principais sacudirem assim a água do capote. Acredito, porém, conhecendo como julgo conhecer Duarte Gomes, que o árbitro não conseguia viver com a culpa sobretudo depois de ter apreciado a reacção civilizada do treinador Daúto Faquirá (que continua a marcar pontos). A culpa integral também não é deles mas de quem nos últimos anos tem conferido aos árbitros auxiliares demasiado poder - longe vai o tempo em que só eram soberanos nos lançamentos de linha lateral, dando umas dicas nos foras-de-jogo... “Esconder-me atrás de erros não faz parte da minha forma de viver esta actividade e por isso quero, sem rodeios, apresentar as minhas desculpas, em nome da equipa de arbitragem, aos clubes envolvidos no jogo e sublinhar também a atitude de respeito revelada por todos os dirigentes e equipas técnicas para com a nossa equipa, apesar do erro cometido”, refere ainda Duarte Gomes, o árbitro que vem de uma época de paragem e que não foi classificado precisamente por isso na última temporada. Bem, vamos admitir que Gomes ainda está à procura da forma. Mas uma coisa é certa: na argumentação já lá chegou! Quanto ao pedido de desculpas, era desnecessário e abre um precedente perigoso. Porque razão não pediram desculpa os jogadores que ontem falharam grandes penalidades?
Também no site da Liga, o organismo que organiza um campeonato patrocinado por uma casa de apostas, uma competição sponsorizada por uma marca de cervejas e outro por uma marca de águas minerais regista o facto de a transmissão televisiva, na RTP 1, do V. Guimarães-Sporting ter sido o programa mais visto de ontem, com um share superior à Ilha dos Amores. Podia também referir a Liga que o futebol em canal aberto costuma ser assim, ou seja, um espectáculo com grande retorno para todos, ao contrário do que acontece em canal fechado, apenas com retorno para alguns. Mas, claro, a Liga não pode ser politicamente incorrecta. De qualquer das formas, o share registado é notável sobretudo para a RTP, com aquela história dos penalties a proporcionar um excelente link entre os telejornais e as telenovelas.
Foi dado pouco destaque à palestra que Joaquim Evangelista deu no auditório do Estádio do Bessa aos jogadores do Boavista, para depois almoçar com João Loureiro. O presidente do Sindicato dos Jogadores enterrou o machado de guerra com o Boavista e o Boavista mostrou grande fair-play. É assim que as coisas se resolvem, com vontade de ambas as partes e a recusa de guerras panfletárias. Mas tal, obviamente, não pode fazer esquecer os graves problemas de planeamento e tesouraria que afectam os nossos clubes e que se reflectem na vida dos profissionais de futebol. De qualquer maneira, parabéns a Evangelista e ao Boavista pela abertura revelada na abertura de mais uma ronda do presidente do sindicato dos jogadores - leitor atento deste blog - pelos clubes portugueses.