O CERQUEIRINHA


Os clubes portugueses já fizeram várias tentativas para melhorar a sua "comunicação". Quase todas debalde. Lembro-me que o Benfica em tempos marcou pontos quando contou com os serviços de Francisco Colaço, num tempo (anos 90) em que a informação ainda circulava no comboio regional e não nos comboios de alta velocidade de hoje, permitindo que então colaboradores de grandes jornais e hoje directores de grandes grupos de media trabalhassem no jornal do Benfica (o que não é desprestigiante de forma alguma se tivermos em conta que a revista "Dragões" contou, nos anos 80, com a colaboração de António Arnaldo Mesquita e de Artur Miranda). No final da década de 90, os clubes transformaram-se em SAD's e tentaram copiar as grandes empresas, criando também departamentos de relações externas. Aí, o FC Porto disparou na liderança, sob a orientação de Antero Henrique - um operacional portista que começou como secretário da revista "Dragões", que foi depois assessor de imprensa, passou a director do departamento de relações externas e agora é o director do futebol, uma espécie de n.º3 do FC Porto numa hierarquia onde resplandesce Pinto da Costa, orbitado pela lua cheia que é Adelino Caldeira, cabendo a Fernando Gomes acertar contas por norma desequilibradas (ou seja, o mais difícil). Hoje, o Benfica oleou sobretudo a sua máquina da "volta a Portugal" pelas casas mas ao que me dizem continua com um departamento de comunicação com tiques do passado, enquanto no Sporting o regresso de Salema Garção, que consegue assistir aos treinos de fato e gravata apesar de o termómetro marcar 40 graus à sombra, pouco parece ter acrescentado. Nos leões, apenas Carlos Severino, na qualidade de assessor director de Dias da Cunha, conseguiu fazer um trabalho digno desse nome, se calhar até extrapolando funções, o que nele não é defeito mas feitio ou não se chamasse "Peças" quando passou pela TFS, onde tudo se passava e já não passa. Pois bem, o FC Porto acaba de contratar o jornalista Rui Cerqueira para seu director de comunicação porque sente a necessidade de melhorar a esse nível. O desafio é grande para o Rui pois é sabido que o FC Porto é um clube pouco consensual em relação à comunicação social, revelando nessa área uma hipersensibilidade que faz com que por vezes afaste do seu dia a dia os grandes órgãos de difusão deste país - é o caso presente do JN, do Correio da Manhã, do 24 Horas, do Record, do DN, da RTP e do Expresso. Sequelas do Apito Dourado que alguns golpes de contorcionistas poderão resolver em relação aos paspalhos do costume que dão o cu e 5 tostões por um beija-mão papal, como se sua santidade se ralasse muito com a subujice, acabando por norma por dar entrevistas ao Bruno Prata - e acho que faz muito bem pois nada é pior que ser entrevistado por mentecaptos. Jornalista de mão cheia, homem culto, grande conhecedor de futebol, gente divertida e boa, o Rui Cerqueira merece o seu melhor neste novo passo na sua carreira. Para já, deu uma bofetada sem luvas àquelas que na RTP preferem a subserviência e a mediocridade à personalidade e ao profissionalismo. Lá mais para diante...cá estaremos para falar.