FOLGA POR SMS


Um homem está em casa, a curtir a sua folga e um ventinho de oeste, faz planos para não ter planos para além de uma cigarradas e de um copito no "centro social do sr. alberto", obviamente com uma leitura ligeira dos jornais pelo meio e um filme no "Premium" ou uma sorna no sofá, e de repente o telemóvel é possuído pelo diabo e começa a crepitar como uma fritadeira cheia de óleo esquecida no fogão. O primeiro reflexo é do tipo "deixa-o tocar", mas a coisa torna-se insistente e pronto já está. Tou apanhado pela actualidade. Ok, vamos a isso, computadores abertos, arquivos também, telefonemas para aqui e para ali e uma inevitável passagem pelo jornal para acertar as páginas. Regresso a casa muito tardio, com a noite completamente perdida e o jantar esquecido nas travessas, com promessa de despertar matinal, que a miúda ainda não vai para a escola sozinha e na viagem até lá sou presenteado com bláblá de um tal Bagão Félix que há dois anos roubou à minha pequena o abono de família que Salazar deu aos tugas e que ali estava a defender que os patrões, pobres coitados, pagam mais de 400 dias de trabalho anual ao seus serviçais e que têm encargos bestiais, o que seria conversa para entreter se não fosse distinta lata sabidos que são os lucros escandalosos das bancas e os vencimentos de administradores de empresas públicas. Enfim, cumpre-se o ciclo com a leitura dos jornais, o primeiro cigarro, o primeiro café e a constatação de que o vento virou a Sul, ou seja, tá a puxar chuvinha. O telemóvel por ora permanece adormecido mas uma fonte bem informada disse-me que não tarda nada e volta a ser possuído pelos demónios que não nos deixam curtir o tempo que passa.

PS - Uma leitura atenta dos jornais de hoje apenas confirma o que já se sabia: a subserviência abjecta de jornalistas muito bem pagos ao "poder institucional". Ao que se soma a flagrante incapacidade do chamado "jornalismo televisivo" para acrescentar um ponto que seja ao trabalho dos "jornalistas de papel", o resultado normal de redacções cheias de pivot-vedetas que há muitos anos não dão uma notícia apesar de esporádicas passagens por cenários de guerra virtual.