ACONTECE


Só num país de puritanos se percebe que o facto de um 'opinion maker' sugerir a interdição de crianças em restaurantes como medida de retaliação ao embargo dos fumadores provoque tanto barulho. Estamos quase no ponto de proibir as ninfomaníacas de ler o "Equador" de Sousa Tavares ou o Obélix de molhar a sopa. Sejamos urbanos e crescidos. Os talibãs andam aí disfarçados de ambientalistas, urbanistas e poetas. Defendem um mundo asséptico, com tantos pontos no seu regulamento como um guia do condomínio. Eu, por exemplo, vivi recentemente num com mais de 200 apartamentos e sei do que estou a falar. Não dar mergulhos na piscina (o mesmo dar um gelado a uma criança e pedir-lhe que não o coma), não correr na garagem, não fumar no elevador, fazer de conta que se estão a contar os pelos dos braços se se encontrar companhia no elevador, levar o cão pela trela à rua sem o deixar cair na tentação de fazer chichi no tapete. etc,. Uma chatice, esta malta. Dir-me-ão que temos de viver com eles pois as viagens para Marte continuam caras e para Vénus os voos estão cheios e ai de quem se atreva a colocar-se em lista de espera... Continuo a preferir um nazi a esta nova espécie de moralista que pulula não apenas nas colunas dos jornais, sob o disfarce de jovem progressista com pena de usar fraldas no 25 de Abril, o que o impediu de comer umas tantas gajas de cabelo curto e grandes pentelheiras, no intervalo dos charros e de copos de vinho do Redondo Tiro a minha bóina apenas ao Vitorino pois sei que já comeu mais gajas que o saudoso Tavares, o único "draguer" que conheci, que na impossibilidade de ser ponta-de-lança do Sporting devido a um murro nos cornos que levou num jogo se transformou um poliglota fodilhão de inglesas e de professoras colocadas em Penafiel ou Entre-os-Rios. Perdoem-me se estou a divagar mas às vezes é mesmo o que apetece enquanto o Verão não entra em força abrindo a temporada da sardinha assada e das nortadas. Foi mesmo só para fazer um intervalo nas futebolidades do costume, agora que faltam apenas duas jornaditas para o fim da Bwin Liga e da Liga Vitalis, antes de 3 meses de dito defeso, onde os jornalistas ditos desportivos serão mais uma vez obrigados a mergulhar na poça da especulação, chegando a casa tarde e a más horas e apenas se salvando as manhãs de praia para os que conseguem levantar o cú cedo da cama e trocar o sono por um banho solar e outro de mar com água a 16 graus e cheiro a "pitrólio". E desculpem qualquer coisa mas isto começou a propósito das criancinhas e dos cigarritos que nos aquentam a alma e acabou assim. Como dizia o homem que um dia me ofereceu 300 livros por causa de uma frase estúpida, "acontece".