MANUEL POEIRA

Uma ida à biblioteca municipal do Porto pode proporcionar não só o reencontro com um dos locais mais decadentes do burgo - povoado por velhos e prostitutas de vão de escada - mas também uma viagem ao passado não muito distante do futebol nacional. Foi o que fiz com as colecções de Janeiro, Fevereiro, Março e Abril do jornal "A Bola", de 1982. Era "A Bola" em todo o seu esplendor, puxada pela força-motriz das grandes reportagens e entrevistas de Alfredo Barbosa, Jorge Schnitzer, Joaquim Rita, Santos Neves, Vítor Serpa, João Alves da Costa e Carlos Pinhão, numa fase em que Rui Santos começava a debutar já com o seu estilo muito próprio. Mas não é deles que quero falar mas da despedida antecipada de um árbitro algarvio que muito prometeu. Chamava-se ele Manuel Poeira e era considerado uma espécie de Pedro Henriques da actualidade. Farto de ser ultrapassado pela direita e pela esquerda por medíocres, Poeira afastou-se não sem antes denunciar um sistema viciado de classificações que amparava os amigos e prejudicava por inerência os talentos. Era o caso de Manuel Poeira, um árbitro com visual à PREC, e provavelmente o único algarvia que um dia teve hipóteses de voar alto na arbitragem. Está visto que pouco mudou no reino dos apitadores...