EUSÉBIO


Sem correr o risco de mais uma vez nadar contra a corrente, arrisco-me a dizer que a operação a que Eusébio foi submetido motivou uma onda de sentimentalismo um tanto ou quanto provinciana. Não ponho em causa o valor da figura. Eusébio foi um monstro do futebol. Mas desde que deixou de jogar raramente conseguiu ser mais que um bibelot do nosso futebol. Eusébio-fora-dos-estádios é uma decepção quando comparado com o Eusébio que vimos nos estádios. O que não lhe retira valor, porém. Eusébio é o Benfica e tudo o que é Benfica, como se sabe, pode ser sempre elevado à máxima potência. Tudo bem. Mas há outros ídolos no futebol português para além de Eusébio. Antigos jogadores que ganharam tanto ou mais que o "Pantera Negra" e que quando penduraram as chuteiras souberam dar uma outra dimensão ao seu papel no futebol. O de Eusébio tem sido de embrulho. Para além da ridícula toalhinha branca que o acompanha sempre nos jogos da selecção e do Benfica e do apoio de última hora que deu a Vilarinho nas eleições que este ganhou, por uma unha...negra, a Vale e Azevedo, não consigo olhar para trás e reparar em algo de relevante que Eusébio tenho feito enquanto não jogador de futebol. E não me digam agora que a culpa é dos outros, que não aproveitaram o potencial de quem até como embaixador do Benfica tem protagonizado algumas cenas embaraçantes em deslocações nacionais e internacionais, com muitas birras à mistura. Recordo, por exemplo, o Europeu de 84, em França, onde Eusébio fez tantas e tão poucas que até o bom do Bruno Santos, um dos elementos do "staff" da selecção, perdeu as estribeiras com os mimos que o "King" reclamava. Repito, não quero com isto retirar dimensão a um futebolista que até deu o seu nome a um bairro dos arredores de Aveiro.