Companheiro Vasco

A notícia chegou-me pelo Paulo Montes: "Morreu o Vasco, na véspera de Natal". Morreu o companheiro Vasco Castro. Meu colega na redacção da "Gazeta dos Desportos", ali na Rua de S. João, com a Ribeira como fundo. O Vasco era um dos veteranos da equipa, com rodagem feita nas páginas de "O Mundo Desportivo", o jornal que me ensionou a ler. Era sempre o último a chegar à redacção, depois de fechar o seu expediente na companhia de seguros onde trabalhava. Muitas vezes partia depressa para Braga ou Guimarães, sobretudo para a cidade-berço, onde ficaram conhecidas as "secas" que levou à espera de Pimenta Machado. Mas o Vasco nunca tinha pressa, embora a sua recolha fosse na Póvoa do Varzim e no dia seguinte tivesse de entrar cedo ao trabalho. O Vasco gostava era de ser jornalista. E teve a sorte de trabalhar no tempo em que os jornalistas podiam escrever sem limites de caracteres. Ao Vasco era preciso pedir para parar, se o deixassem seguir era capaz de fazer entrevistas de 40 linguados (uma folha com 25 linhas dactilografadas) com um juvenil do FC Porto. O Vasco era preciso para os mais jovens também porque tinha histórias para contar, sobretudo quando descíamos à Rua Escura e à tasca do sr. Júlio, o "Barrete Encarnado", onde o Vasco pedia sempre o seu bacalhauzinho. Que invariavelmente apenas depenicava. O Vasco comia como um passarinho e o físico de tal se ressentia. Lembro-me de encontrá-lo uma noite, exaurido, deitado sobre a alcatifa da redacção. Tinha a carta há pouco tempo mas conduzi-o no seu carro até à Póvoa. Alguém foi atrás de mim e trouxe-me de volta. No dia seguinte, lá estava o Vasco, sempre preocupado com as suas filhas, sempre a matraquear a sua máquina de escrever. Fui para Lisboa, voltei ao Porto mas perdi o rasto do Vasco. Falei uma vez com ele ao telefone e dele falei com outros que o conheceram. Até chegar a notícia da sua morte. Morreu o Vasco. Que porra!