Jornalistas


Em Lisboa há um clube a que chamam dos jornalistas. Não é tanga. É mesmo um clube de jornalistas. Trata-se, obviamente, de uma organização paroquiana - mau seria se não fosse - dependente de alguns apoios mas que tem conseguido afirmar-se, para além de ter uma bela sede na Rua das Trinas, salvo erro, ali à Lapa, em Lisboa. Esse clube noutros tempos empenhou-se em organizar os jogos dos jornalistas, iniciativa na qual sempre foi mais importante o campeonato dos copos e das copas que propriamente o desporto - também como se compreende. Pois bem, esse é o mesmo clube que atribui os Prémios Gazeta de jornalismo, prémios que apenas pecam por necessitarem de candidatura dos concorrentes, limitando, deste modo, o universo em análise. Prémios que por norma são atribuídos ao mérito embora aqui e ali com forte cariz paroquiano, o que volto a entender. O CJ edita também uma revista, "Jornalistas", que toca temas por vezes interessantes quando não se centram em teses universitárias que não interessam nem ao menino Jesus que é santo. Outra coisa que dou de barato. Pois bem, o último número de "Jornalistas" inclui o relato de uma visita às redacções do "The Guardian" e da Reuters, em Londres. Vamos deixar o Guardião de lado que está demasiado na moda. O que me deixou um bocado abalado foi o relato da visita à Redacção da Reuters, quando fiquei a saber que cada jornalistas tem direito a uma secretária com 3 metros, a um telefone com gravador incorporado, a um computador com plasma, a outro plasma onde correm as notícias e a um terceiro que é uma televisão. Mais me informaram que a redacção tem "um excelente bar". São coisas assim que nos deixam com água na boca sobretudo quando reparamos na qualidade do ar das nossas redacções, nas TVs de vão de escada que lá moram, nos telefones que não tocam, na máquina de zurrapa a que chamam café e que nos obriga ainda a meter uma moedinha, na fotocopiadora que deixou de funcionar em 1994 e na impressora regra geral com falta de toner. Penso que o mal é comum. Aqui fica o registo, no jeito de choradinho, é verdade, mas só a verdade é revolucionária, como dizia o Mao e uma amiga do peito.

PS - O CJ tem também um programa de televisão por vezes com um no mínimo irritante moderador, o famoso Bininho. Nem de propósito. Estava eu a passar a mão pelo pêlo do CJ e o mesmo Bininho moderava (?) um debate sobre a extinção da caixa dos jornalistas com um representante da caixa, um do sindicato e outro da casa de imprensa (suportada quase na sua totalidade pela caixa), sem direito a contraditório, ou seja, pelo menos à voz de um jornalista que perceba porque é que o Governo quer acabar com o nosso subsistema de saúde. Seria assim a democracia de o dr. Barreirinhas tivesse levado a sua no PREC de 75 - a propósito, no programa não faltaram depoimentos dos cromáticos e folclóricos Batista-Baptos e Fernando Dacosta, o primeiro um conhecido predador das redacções, tal como o Bininho, e o segundo um ainda mais famoso escritor sem leitores. Felizmente não é. Há que perceber que não estamos a falar de direitos adquiridos mas sim de igualdade. Lembram-se daquela palavrinha que a gaivota levava quando voava, voava?