Reflexos


Não sei se me escapou algo nos últimos tempos mas se calhar sim, foi isso que aconteceu. Também já são 22 anitos em cada perna... Olho pra TV e o que vejo: um anúncio a instigar-nos à preguiça graças a uns tantas e-mails que o novo telemóvel pode enviar, outro cheio de balõezinhos laranjas da GALP que fazem parar uma cidade que não pára mesmo quando uma velhinha é atropelada por um autocarro... Abrimos os jornais e temos os jornais a falar de jornais e da crises que não conseguem resolver e que nunca resolverão se continuarem assim catatónicos. E a rádio tenta convencer-nos com música dos anos 70 e 80, fazendo de conta que a música acabou no Mick Jagger e se calhar acabou mesmo. Como se tudo isto não bastasse, os professores fazem greve hoje e fizeram ontem mas a professora da minha filha marcou na 2: feira um dia de férias e assim teve um fim-de-semana de 5 dias, professora que é a segunda que a miúda, que está na 1.ª classe, tem este ano e a coisa, dizem-me, não vai ficar por aqui. Vale que a miúda é esperta e já está habituada a este tipo de jigas. Mas nem tudo é mau. Afinal a Floribella não namora com aquele rapaz com cara de parvo e com cabelo de um cor intraduzível e o Ricardo Araújo Pereira vai apresentar o novo livro do Lobo Antunes, ao lado do Agualusa. O Guedes é que não deve ter gostado disto mas adiante. No campo da edição, a pobreza é tal que fui obrigado a comprar um policial para ter qualquer para ler, tendo sido salvo por uma edição de crónicas do impagável Bill Bryson - "Notas sobre um país grande" -, um livro que nos leva até à América tal como ela realmente é, ou seja, ignorante e alegre como um lobotimizado capaz de perceber o que o Antunes escreve. Mais coisas? Bate a chuva na vidraça e o vento sopra de sul, as primeiras folhas começam a caducar e o Mundo segue sereno apesar da ameaça do Natal. Há Verões muito piores do que este que passou pelo meio dos meus dedos.
PS - Acabo de almoçar com um amigo que foi surpreendido esta madrugada, em Leça da Palmeira, por uma patrulha da GNR. Depois de realizar três testes do balão junto ao carro que não resultaram, foi conduzido ao posto local, onde foi informado que os testes tinham dado um valor "quantitativamente positivo". O meu amigo quis ir ao hospital fazer um teste sanguíneo. Não o autorizaram. Acabou detido por desobediência mas foi libertado quando disse que era...jornalista. Às 4 da manhã ficou sozinho à chuva fora do posto. O processo está agora em inquérito. Isto pode acontecer a qualquer um. Há sempre um zeloso GNR à espera de si.