Inside Maniche


Há uma série de jogadores no Mundial que mantêm o seu blog, sob o patrocínio da MSN. Por cá, temos o privilégio de, através do site da Gestifute, finalmente optimizado, "apalpar o pulso" ao ambiente que se vive na selecção. Cá fica para quem é preguiçoso e não quer dar uma salto ao remodelado site da Gestifute como foi que Maniche cortou outra orelha ao Van Gogh:
Levantei-me hoje, menos de 12 horas depois de termos assegurado a presença nos quartos-de-final deste Mundial, e fui tomar o pequeno-almoço. O que é que eu bebi logo que entrei na sala? Sumo de laranja. Pois é. Na última conferência de Imprensa em que estive presente um jornalista perguntou-me se eu gostava de sumo de laranja. Quase que não consegui responder, porque me deu uma enorme vontade de rir. Disse que sim, mas que preferia água. É mentira: agora é que eu gosto de sumo de laranja. Se gosto!
O dia de ontem foi espectacular, mas começou da mesma forma de sempre: acordei às 10h30, tomei o pequeno-almoço e até à segunda refeição do dia descansei, tal como todos os meus companheiros. Já nessa altura pensei cá para mim: “Maniche, se jogares, vais marcar um golinho”. Fui com isto na cabeça para o almoço, que foi óptimo: frango com arroz de cenoura e arroz doce para a sobremesa. Fomos todos para a sala dos jogadores conversar um pouco, descontrair mais um bocadinho e ver o jogo entre a Inglaterra e o Equador. Até à hora do lanche tivemos mais um período de concentração. Fomos para a palestra e fiquei a saber que ia jogar de início. É sempre bom ouvirmos o nosso nome, daí ter recebido a notícia com uma grande alegria. Sorri de orelha a orelha e voltei a falar com os meus botões: “Maniche, vai jogar e vais marcar um golito”. Saímos do hotel, voltámos a sentir o calor dos muitos portugueses que nos foram incentivar, chegámos ao estádio e novo período de concentração até ao momento em que começou o aquecimento. Ouvir música no Ipod é a forma que me ajuda a concentrar. Há companheiros meus que preferem ritmos mais agitados, música de dança para despertarem para o jogo; no meu caso dou preferência a ritmos mais suaves, música mais calma para relaxar. Durante esse período pensei que tínhamos de fazer um grande jogo, pensei que tínhamos de dar tudo como se aquele fosse o último jogo das nossas vidas: tínhamos de ganhar. Cheguei ao balneário, fui fazer chichi, que no relvado não há casas de banho nem o jogo pode ser interrompido para satisfazer as necessidades fisiológicas; fui jogar mini-futebol para relaxar; e parei para meditar durante dois minutos. Preciso de fazer isso antes de cada jogo. É a minha maneira de apelar a todas as minhas forças para entrar em campo com tudo, em grande. As minhas filhas estão, também, no meu pensamento até entrar em campo. Chegou o momento de entrar em campo. Fi-lo, como é habitual, com o pé direito, depois bati três vezes com a mão no relvado antes de pousar o pé esquerdo. É a minha única “mania”, que podem considerar superstição. Mas é assim que me sinto bem. O jogo começa. As coisas estão a correr bem para nós. Até que há uma jogada em que acreditei. Fui lá à frente, entrei na área, já não sei se tinha dois ou três defesas a meu lado, recebi a bola e pensei: “É agora, Maniche, vais fazer golo”. E fiz. Foi espectacular. Afinal, o meu palpite estava certo. Corri para festejar com os adeptos, foi uma grande alegria. E outra vez com a Holanda, depois do golaço que marquei há dois anos, no Euro 2004. Lá está: agora é que eu gosto de sumo de laranja…